Lembro-me, como se fosse hoje, da minha primeira negativa. Tinha doze anos, andava no 7º ano. A Matemática. No primeiro teste do ano.
Nunca gostara particularmente daquela disciplina. Não encontrava nos números a poesia das letras - a geometria ainda tinha alguma piada, mas era um fascínio que me passava depressa. Uma ciência tão exacta não me oferecia desafios, nem me fazia viajar, mas nada fazia prever um desfecho tão trágico. A minha melhor amiga, na altura - e que ainda se mantém - teve o mesmo resultado.
A professora teve o cuidado de escrever na nossa caderneta que o resultado não era preocupante e que se tratava de um simples teste diagnóstico, mas eu queria lá saber, para mim o diagnóstico estava feito e eu falhara redondamente.Recordo-me de passarmos o dia a planear o que haveríamos de fazer, tal era a desilusão. Acabámos por abandonar a fuga de casa que víamos nos filmes e decidimos contar a verdade.
Voltar para casa nesse dia foi um inferno. Sentia os ombros pesados. De repente, a mochila adquirira toneladas imaginárias com apenas mais uma folha de papel. Aos doze anos, aquele incidente escolar feria-me como balas, doía-me como uma desilusão de amor e não havia qualquer frase comum como "Há sempre uma primeira vez para tudo" que me fizesse desdramatizar a situação.
Acabei por contar o que se passara de uma forma rápida, entre garfadas, à mesa de jantar. Não houve qualquer expressão de desilusão, nem tão-pouco preocupação, no rosto da minha mãe. Prometi estudar mais para ser mesmo uma vez sem exemplo.
E foi. Estudámos que nem loucas para o próximo teste e voltámos aos recordes das melhores notas da turma. Tudo não passara, afinal, de um grande susto. Os colegas mais fracos gozaram com a nossa preocupação excessiva, mas nós éramos estreantes.
Os anos passaram-se sempre com boas notas. No 9º ano, abandonei a Matemática, que nunca me deixou saudades. Ironicamente, ou não, esta minha amiga fez deste fracasso forças e acabou por seguir Matemática. Agora, quando algum trabalho me corre menos bem - textos, porque números não é comigo - penso nessa negativa. Na da minha amiga, na minha não. Porque a minha ainda me faz sentir os ombros pesados.
Nunca gostara particularmente daquela disciplina. Não encontrava nos números a poesia das letras - a geometria ainda tinha alguma piada, mas era um fascínio que me passava depressa. Uma ciência tão exacta não me oferecia desafios, nem me fazia viajar, mas nada fazia prever um desfecho tão trágico. A minha melhor amiga, na altura - e que ainda se mantém - teve o mesmo resultado.
A professora teve o cuidado de escrever na nossa caderneta que o resultado não era preocupante e que se tratava de um simples teste diagnóstico, mas eu queria lá saber, para mim o diagnóstico estava feito e eu falhara redondamente.Recordo-me de passarmos o dia a planear o que haveríamos de fazer, tal era a desilusão. Acabámos por abandonar a fuga de casa que víamos nos filmes e decidimos contar a verdade.
Voltar para casa nesse dia foi um inferno. Sentia os ombros pesados. De repente, a mochila adquirira toneladas imaginárias com apenas mais uma folha de papel. Aos doze anos, aquele incidente escolar feria-me como balas, doía-me como uma desilusão de amor e não havia qualquer frase comum como "Há sempre uma primeira vez para tudo" que me fizesse desdramatizar a situação.
Acabei por contar o que se passara de uma forma rápida, entre garfadas, à mesa de jantar. Não houve qualquer expressão de desilusão, nem tão-pouco preocupação, no rosto da minha mãe. Prometi estudar mais para ser mesmo uma vez sem exemplo.
E foi. Estudámos que nem loucas para o próximo teste e voltámos aos recordes das melhores notas da turma. Tudo não passara, afinal, de um grande susto. Os colegas mais fracos gozaram com a nossa preocupação excessiva, mas nós éramos estreantes.
Os anos passaram-se sempre com boas notas. No 9º ano, abandonei a Matemática, que nunca me deixou saudades. Ironicamente, ou não, esta minha amiga fez deste fracasso forças e acabou por seguir Matemática. Agora, quando algum trabalho me corre menos bem - textos, porque números não é comigo - penso nessa negativa. Na da minha amiga, na minha não. Porque a minha ainda me faz sentir os ombros pesados.