Após mais de trezentos anos sem se ouvir, a expressão “Água vai!” voltou às ruas do Porto. Não há esgotos a céu aberto, as senhoras não andam de sombrinhas e os cavalheiros há muito deixaram os chapéus em casa. Mas, tal como antigamente, a frase é (quase sempre) gritada das janelas e antecede a largada de um balde de água.
Passou os séculos à frente, desafiou os livros de História que geralmente a remetem para a época anterior ao Marquês do Pombal, e voltou à Ribeira, mas a água agora é limpa e o grito exclusivamente nocturno.
Nas ruas estreitas de paralelos e escadas, a água começa a correr quando a noite já caiu e sobretudo às segundas-feiras, dia em que a bebida é barata e convida as gerações mais novas a ficarem algum tempo.
Depois de litros ingeridos, há necessidades fisiológicas a que – a julgar pelas extensas filas à porta das casas-de-banho – os bares não conseguem dar resposta. Por isso, procura-se a rua. Rapazes e raparigas fazem-no em becos, mais ou menos escondidos, sem se lembrarem, no entanto, que, uns metros mais acima, há janelas que deixam entrar o cheiro e o barulho e baldes de água em punho para os combater. Por vezes, tomam um banho inesperado acompanhado por palavras de protesto em frases pontuadas por palavrões bem à moda do Porto. O grito, esse, nem sempre se ouve, mas está no gesto e na indignação ou então calam-se as palavras que a História eternizou porque o objectivo actual é outro: atingir, afastar o cheiro, lavar as ruas e lavar consciências.
Com um balde de água certeiro denunciam-se comportamentos que interferem com aqueles que já viveram muitos anos e, àquela hora, querem é estar a dormir. Por entre copos, passos cambaleantes e gargalhadas que o álcool intensifica, a expressão saltou mais de três séculos e ganhou uma nova utilidade.
Passou os séculos à frente, desafiou os livros de História que geralmente a remetem para a época anterior ao Marquês do Pombal, e voltou à Ribeira, mas a água agora é limpa e o grito exclusivamente nocturno.
Nas ruas estreitas de paralelos e escadas, a água começa a correr quando a noite já caiu e sobretudo às segundas-feiras, dia em que a bebida é barata e convida as gerações mais novas a ficarem algum tempo.
Depois de litros ingeridos, há necessidades fisiológicas a que – a julgar pelas extensas filas à porta das casas-de-banho – os bares não conseguem dar resposta. Por isso, procura-se a rua. Rapazes e raparigas fazem-no em becos, mais ou menos escondidos, sem se lembrarem, no entanto, que, uns metros mais acima, há janelas que deixam entrar o cheiro e o barulho e baldes de água em punho para os combater. Por vezes, tomam um banho inesperado acompanhado por palavras de protesto em frases pontuadas por palavrões bem à moda do Porto. O grito, esse, nem sempre se ouve, mas está no gesto e na indignação ou então calam-se as palavras que a História eternizou porque o objectivo actual é outro: atingir, afastar o cheiro, lavar as ruas e lavar consciências.
Com um balde de água certeiro denunciam-se comportamentos que interferem com aqueles que já viveram muitos anos e, àquela hora, querem é estar a dormir. Por entre copos, passos cambaleantes e gargalhadas que o álcool intensifica, a expressão saltou mais de três séculos e ganhou uma nova utilidade.